Ainda não chegou o dia especial em que Pedro deixaria sua cidade natal. Precisava expandir seus horizontes, extasiava com tanta magia e luz acontecendo a sua volta, se divertia com inumeras histórias que ele poderia criar, inumeras pessoas a conhecer, experiências a adquirir e truques a aprender. Por que escolher outra coisa com todo o leque de oportunidades que tinha em seu próprio desejo?
Haveria de ser o que quer. Ninguém lhe tiraria esse direito.
Estava disposto a realizar seu sonho. Pedro só não estava certo de uma coisa: como fazer a garota que atualmente habita seus sonhos voltar para ele? Foi obrigado a terminar pelo mesmo motivo que ainda não está estudando arte na faculdade. E agora todos os dias ele relembra o beijo doce, a mão macia e o colo aconchegante que ela tinha.
O amor é traduzido pela distância que os separa. O sorriso suave e o arfar outrora extasiante reduzido a lembranças que lhe trazem amargura. Antes um abraço que fazia seu coração palpitar aceleradamente e hoje este mesmo abraço não dura mais do que dois segundos. Nem o colar Roberta usava mais. Deve estar esquecido em uma gaveta ou ido para o lixo. A mãe dela deve pensar que ele é um vagabundo oportunista e mesmo assim pensa em Roberta todos os dias. Sempre na hora de dormir.
Passa horas pensando nela e quando percebe o dia já está amanhecendo... ironia do destino? ele mesmo a chamava de "raio de sol". Acariciava as sombrancelhas como quem dizia "eu te amo", apertava suas orelhas enquanto observava seus olhos fechados e a cabeça de Roberta encostada em seu peito. Esfregava as pontas dos dedos na nuca de Roberta, ela acariciava sua barba e apertava contra o peito dele como quem falava: "não me deixe nunca"!
Alguns acham isso bonitinho enquanto outros acham piegas e antiquado. Pedro não tem opinião. Apenas sente calado e prepara-se para um exílio. Ele sabe que é questão de tempo para este amor se transformar numa bela amizade. E sabe que o carinho que teve por Roberta será dado a um outro alguém que lhe interessar. Mas só ele sabe o que seria capaz por mais um abraço forte e demorado, com o corpo colado e as buchechas se encontrando dos respectivos lados esquerdos de modo que os corações de um ficaria próximo ao coração do outro. Com certeza era a emoção que Pedro mais desejava no momento.
Olha para o céu negro como quem procura uma resposta de Deus. Nos desenhos formados pelas nuvens vê um pássaro com as asas abertas. Crê que este é o sinal necessario para que arrisque tudo e se jogue no abismo.
Como poderia culpar Roberta se nada do que ele prometera ele podia cumprir de imediato? E parando para pensar não era isso que Pedro queria para ela. O amor que sentia por Roberta era imenso a ponto de preferir vê-la longe dela ao invés de ver ela sofrer com ele. Pedro preferia sua solidão triste e desapegada. Era de sua natureza seus momentos de solidão. Embora nem sempre ele foi triste assim.
Já houve épocas mais alegres e menos adversas para Pedro. E não poderia deixar Roberta participar disso. Deveria protege-la dele mesmo. Por isso para Pedro amar é sinônimo de algo triste. Tristeza é sinônimo de coragem. A coragem de se largar no abismo para então voltar com uma bagagem carregada de sabedoria. Ele sabe que isso não é para todo mundo. Mas se encaixa perfeitamente no perfil dele.
E como se não bastasse tudo isto, os própios conflitos internos e os próprios problemas externos, ainda aparecem pessoas que, sem razão aparente, querem prejudicar Pedro. Um deles, Bruno, um garoto otário que mora na cidade de Salvador teve a pretensão de dizer as pessoas que ficou com Roberta na época do namoro deles. Coisa que ela jura que não aconteceu. O que mais irritava não era a mentira que Bruno inventou com medo de perder sua popularidade para alguem que ele sabia ser um cativante nato. Todos que o conheciam gostavam dele como ele era. Esse era o medo de Bruno.
O fato era: Pedro poderia ser ou não corno. Mas isso não importava mais. Ele não tinha mais nenhum vínculo com Roberta portanto isso seria problema dela e não dele. Mas o fato da covardia de Bruno em não assumir seus erros como um homem... era um menino!!
A culpa é do Tempo
Há 11 anos